14.3.06

A guerra contra o terrorismo

O filósofo Richard Rorty, professor na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, no artigo intitulado Entre quatro paredes, publicado no caderno “Mais!” da Folha de São Paulo (04/04/2004, p. 10), confessa que “a suspeita amplamente compartilhada de que a guerra contra o terrorismo é potencialmente mais perigosa do que o terrorismo em si me parece totalmente justificada”. O pensador americano não esconde sua preocupação com as mais de 700 bases de apoio militar americanas pelo planeta afora. Teme também que os exércitos e os burocratas responsáveis pela segurança nacional em todos os países-membros da União Européia venham a dispor subitamente de poderes jamais vistos. Se ocorrerem mais atentados terroristas, “essas elites provavelmente acabarão acreditando que, para salvar a democracia, é preciso primeiro destruí-la”.

A tese do professor americano é a mesma do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: “É multissecular a tradição do Ocidente de violar os direitos humanos sob o pretexto de os defender, de cometer os mais grosseiros atropelos à democracia para impor a democracia”. A indagação que Boaventura faz é provocante: “Poderá eliminar-se o terrorismo sem eliminar o terrorismo do Estado?” (Folha de São Paulo, 06/01/2006, p. A-3.) A questão é bastante complicada porque formou-se um círculo vicioso de difícil solução: um poder empurra o outro.

É como explica Terry Eagleton, autor de Ideologia da Estética (Jorge Zahar) e Depois da Teoria
(Civilização Brasileira), numa entrevista concedida de Manchester à Folha de São Paulo no início de janeiro: “O terrorismo força os Estados Unidos a adotar medidas enérgicas para assegurar seu poder global e segurança nacional”. Mas a repressão, acrescenta Eagleton, “não é a melhor ferramenta para derrotar o terrorismo, ela só o agrava”. É uma guerra de fundamentalismos: o fundamentalismo americano (também chamado texano) e o fundamentalismo terrorista (também chamado de Taleban). Quando se trata de posições fundamentalistas há pouca esperança, porque o fundamentalismo de um e do outro, acrescenta o professor de teologia cultural, “não difere muito em essência, no sentido de que ambos negam a existência de outro e tentam impor sua forma totalitária de ver” (Folha de São Paulo, “Mais!”, 08/01/2006, p. 4). O terrorismo apela para o atentado suicida como recurso de quem está no lado mais fraco. O sociólogo Diego Gambetta, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, especialista no assunto, assegura que “as missões suicidas são a artilharia do homem pobre”.

Extraído da Revista Ultimato 299 - março/abril de 2006 - www.ultimato.com.br

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